sexta-feira, 1 de maio de 2009

ULTIMO SUSPIRO


Deco Ribeiro

"Sou só mais alguém, querendo encontrar
A minha própria estrada pra trilhar.
Apenas alguém, querendo encontrar
A minha própria forma de amar.
E não é fácil...
Não é fácil viver assim."
~ Junior Lima, Super herói


Três adolescentes gays se matam por dia. Três E-jovens. Um a cada 8 horas. Depois disso, o que resta dizer? Imagine um pai acordando às 7 da manhã, pra ir ao trabalho, e encontrar seu filho morto, enforcado no quarto. Ou um rapaz chegando do inglês às 15 horas e encontrando o corpo da irmã, no banheiro. Ou o porteiro do prédio entretido com o finalzinho do Big Brother, às 23 horas, que ouve o baque surdo de alguém que se joga pela janela. E isso acontecendo no mesmo dia, TODOS os dias, sete dias por semana, entra ano, sai ano... Enquanto você passou o fim-de-semana na praia, 6 E-jovens se mataram. Nos quatro dias de vestibular da Unicamp, mais 12 cometeram suicídio - e um foi assassinado. Nos cinco dias de Carnaval, outros 16 morreram. Provavelmente 17. Sozinhos.

Simplesmente por serem gays. E eu enfatizo o termo 'gay' porque é o que acontece, na grande maioria dos casos: 6 garotos se matam pra cada garota. Ou seja, dos 1056 E-jovens que vão se matar em 2005, 150 serão lésbicas e 906, gays. Você não se impressiona com esse número?? Eu leio, releio, e não consigo assimilar. Em um ano, NOVECENTOS E SEIS garotos vão preferir morrer a continuar sofrendo humilhação. CENTO E CINQUENTA garotas vão escolher desaparecer a ter de lutar pelo direito de amar quem elas quiserem. Mil e cinquenta e seis. Alguns devem ser até vestibulandos também. Serão mil e cinquenta e seis futuros profissionais a menos. Futuros nada. Quanto de talento não estamos perdendo, a cada ano? Quantos artistas, escritores, músicos, arquitetos, médicos, engenheiros, designers, advogados, professoras? A gente costuma dizer que a cada ano que vira o mundo parece enfrentar mais guerras, mais violência, mais tristeza... Será que parte do motivo não está nesse milhar de jovens que desaparecem? Quem sabe o que eles poderiam trazer de benefícios para a humanidade?

Eu não me canso de buscar confirmação para estes números. E tudo parece confirmá-los. Em estudo lançado pelo departamento de Medicina Preventiva e Social da Unicamp atestou que a principal causa de suicídio entre jovens se relaciona com frustrações no âmbito familiar e afetivo. Justamente onde a coisa pega para os E-jovens. Quando sua família te recrimina por algo que você faz, como usar drogas, é até simples largar e pronto (ok, não é simples, mas é possível). Quando o menino tá na fossa porque sua namoradinha o deixou, basta aparecer outra e temos um suicida a menos. Mas e quando sua família o recrimina não por algo que vc faz, mas por algo que você é? Quando um pai ou uma mãe diz "Se você continuar com essa viadagem, você pra mim morreu," e o jovem sabe que NÃO PODE MUDAR ISSO?? E quando ele está apaixonado pelo melhor amigo - e não há nada que ele possa fazer quanto a isso? Não pode conversar com os amigos, não pode conversar com os pais, com os irmãos... Não pode nem ao menos esquecer e partir pra outra, porque a 'outra' será invariavelmente 'outro', e o ciclo todo se repete. Enquanto ele ainda for novo e não tiver segurança de correr atrás de seus desejos, ele vai sofrer - e muito. Como diz o Júnior, na música, "E não é fácil viver assim".

É aí que a gente percebe como esses números podem sim ser reais. E machuca, né? Há alguns dias eu estva conversando com um E-jovem que tentou se matar, pra valer, mas não conseguiu. Ele me disse que hoje, olhando pra trás, ele percebe o quanto era ridícula aquela situação, o quanto o seu desespero era puramente a incapacidade dele chegar e conversar com as pessoas da sua vida. Mas que, na hora, você não percebe que há uma saída. Na sua cabeça, não existe nenhuma. Só a morte. Agora imaginem estes MIL E CINQUENTA E SEIS que vão morrer este ano, se tivessem a chance de pensar um pouco mais de tempo, de serem ajudados, de ver que de repente um diálogo bem aberto sobre tudo o que estão sentindo pode solucionar o problema. Gente, são mais de mil vidas!

Mais de mil famílias sofrendo a cada aniversário, a cada Natal, a cada lembrança... Fora os amigos...

Ah, chega. Não tem mais o que escrever, sério mesmo. Vamos falar de coisas práticas. Tem solução pra acabar com essa matança?

Tem. Para o garoto, a garota, sair do armário é a melhor opção. Assumir para as pessoas da sua vida a sua orientação sexual e parar de sofrer em silêncio. Poder buscar ajuda, tanto em casa, quanto junto a seus amigos próximos, quanto com um psicólogo, sei lá. Mas FALE.




Um comentário:

  1. ei pessoa, tem selo / desafio pra vc no meu blog.

    http://thevoyeurman.blogspot.com/2009/05/mexe-com-quem-esta-quieto-desafio.html

    depois passa la e veja...

    dpois eu passo aki c tempo pra comentar melhor o post ok?
    abração

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